quarta-feira, 22 de abril de 2009

Suspensos pela pele




Tatuagens, piercings, suspensões com ganchos, alargamentos e implantes. Essas são algumas das experiências que fazem parte da chamada body art (arte no corpo). Uma nova tendência que está se espalhando no Brasil desde a década de 1980 e em Salvador já tem adeptos que chamam muita atenção. Não é difícil encontrar pelas ruas algum jovem usando piercings ou tatuagens em lugares inusitados, mas isso é só um pouco quando se fala em body art.
“Tem gente que corta a orelha pra ficar pontuda, ou faz implantes embaixo da pele pra modificar e ficar com um visual alienígena”, diz Pirão, como é conhecido Anderson Mascarenhas, 26, e que há oito anos trabalha com body art. Para ele, o cenário da tendência vem crescendo na Bahia. “Mas, tem muita gente empenhada que busca contatos na internet e troca informações”.
A escarificação é outra técnica da bodyart. Originada de tribos africanas onde as pessoas faziam um desenho com cortes na pele e retardavam o processo de cicatrização para conseguir uma cicatriz hipertrófica, como uma quelóide. No filme Um Homem Chamado Cavalo (1970), foi retratada, pela primeira vez, uma cena de “suspensão”, vivida pelo ator Richard Harris que interpreta um aristocrata inglês capturado pelos índios siux. A personagem de Harris teve a sua coragem colocada a prova e a cena causou – e ainda causa - grande comoção do público.
Com treze piercings no corpo, dez só na face, Felipe Castro, 18, conta que tinha 15 anos quando colocou o primeiro na língua. E conta que o caso mais absurdo que viveu ocorreu quando estava no interior e um senhor o agarrou na rodoviária e deu-lhe uma cabeçada. “Fiquei sem entender nada”, diz Felipe, que já se suspendeu cinco vezes. Segundo ele “o momento que dói mais é quando a pele e furada pelos ganchos, depois você é suspenso e a pele ‘descola’, aí você não sente mais nada”
Existem variados tipos de suspensão, como a suicide, quando os ganchos são colocados nas costas; a O-Kee-Pá, dois ganchos no peito; a ponte, os ganchos são na barriga. Segundo os adeptos, quanto mais ganchos, menos pele é “descolada da carne” e, depois da suspensão, deve-se massagear a região esticada para tirar o ar que entra pelos furos dos ganchos. .
Superação e atitude são o que diz ser necessário Mário Augusto, 25, que fez a suspensão pela primeira vez durante a reportagem. Com quatro ganchos nas costas, Mário respirou fundo antes de tirar o pé do chão. Pouco sangue sai dos orifícios provocados pelos ganchos e, após cerca de três minutos, Anderson desceu excitado com a realização. “Foi uma experiência maravilhosa, gostei demais e vou de novo. Recomendo pra todas as pessoas. Pode se suspender tranqüilo”, assegura Anderson.
Em 2007, foi realizada em Salvador a I Convenção de Tatuagens da Bahia, oportunidade em que os body arts trocaram diversas informações sobre técnicas inovadoras. Pirão conta que uma vez por ano, em diversas cidades do mundo, é realizada a Convenção de Suspensão (cuja sigla no inglês é Suscon).
O preconceito é uma realidade presente, na opinião de todos. “Já disseram que eu tinha pacto com o diabo”, fala Felipe, que se diz ateu e afirma que esse é o seu estilo e as pessoas têm que respeitar. “Pra mim, todo tipo de arte é válida. Se for no corpo, melhor ainda!”, completa Pirão.
Lucas Barbosa

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